RIO — O carioca Álvaro Franca, 22 anos, foi parar em vários blogs de design e tendências do mundo, nas duas últimas semanas, após divulgar na internet a série “Typewritten portraits”, na qual demonstra sua paixão por máquinas de escrever ao retratar escritores que não só usavam o apetrecho como falavam sobre o ato de datilografar em suas obras. Nomes como Bukowski, Salinger, Hemingway, Kerouac e Clarice Lispector. Álvaro trata as letras como pixels e usa seis tons de cinza, que consegue obter com a sobreposição de teclas, para criar o efeito de luminosidade e volume em seus retratos.
Retrato de Charles H. Bukowski - Divulgação
— Não deixa de ser uma forma de escrita, pois estou organizando letras para que produzam algum significado. E é terapêutico — conta o artista, que é estudante da Escola Superior de Desenho Industrial da Uerj e, no ano passado, durante um intercâmbio na Cambridge School of Arts, comprou sua primeira máquina de escrever, uma Olympia Traveller Deluxe, e muitos rolos de tinta. A ideia, a princípio, era escrever cartas e poemas, mas o modelo acabou sendo usado para outra coisa.
Retrato de José Saramago - Divulgação
Antes de começar a digitar os retratos, que são criados linha a linha, como se escrevesse um texto, Álvaro faz um mapa pixelizado, um guia que ele segue fielmente — ou não — à medida que vai datilografando. Ele utiliza apenas as teclas “m”, “x”, “i” e “o”. Para obter o preto, por exemplo, precisa sobrepor as quatro teclas. Cada retrato leva de quatro a seis horas pra ficar pronto. O mais trabalhoso foi o de José Saramago, que tem bastante preto.
O retrato de Hemingway é o primeiro de uma segunda rodada da série, que ele pretende encerrar, em breve, com homenagens a Kafka, Cecília Meireles, Manoel de Barros e Milan Kundera. Fascinado por tipografia e literatura, ele ainda tem um outro projeto, em seu site alvarofran.ca, sobre a obra de Hemingway, com textos sobrepostos. Em “Poesia de máquina”, ele programou uma máquina para escrever um poema de Álvaro de Campos com alguns “traços” extras, uma espécie de defeito, que seria a poesia da máquina. Além de ver o mundo em pixels, Álvaro é um apaixonado por livros.
Retrato de Clarice Lispector - Divulgação
Matéria: http://oglobo.globo.com/cultura/artes-visuais/estudante-de-desenho-industrial-de-22-anos-cria-portraits-datilografados-14415843